Se soubesses que, do outro lado, não importa bem de quê, estaria algum conforto, nem hesitarias. Foi Natal e nada se alterou. Ficou o desejo insatisfeito, a dor por suportar, o convite à desistência. Tu sabes que não és o mesmo. Sabes que tiveste de resistir e que tiveste de ouvir falar de paz e amor no mundo, que o Cristo terá trazido, quando ele próprio não precisaria de ser Deus para ver a falácia de tudo isso. Amor transmutado em luzinhas e presentes caros, tudo aquilo que o Cristo não faria, muito menos num Natal qualquer. Sobrevives porque sabes que, do lado de cá, haverá sempre algo que te tomará nos braços e te ajudará a adormecer, ainda que saibas que será provisório. Talvez as palavras, talvez estas palavras atiradas a um qualquer muro, ao teu, talvez.
Dorme em paz, onde quer que o faças. Esperaremos juntos pelos Magos do nosso Oriente, seja onde for.
6 comentários:
O amor é como a morfina. Serve para tornar a vida suportável. E esquecer a podridão.
CSD
talvez as palavras nos façam sempre sobreviver *
(feliz dia de reis)
Gostei muito desta reflexão.
A morfina engana. Ilude. Esconde o que se passa e o que se sente. Anestesia-nos. E se tentássemos parir a vida sem analgésicos? Dói mais mas se calhar também daríamos mais valor às coisas boas que saem de nós. Porque sim, depois da dor vem sempre algo de bom. E se achamos que esse bom nunca chega é só porque nunca sofremos de facto. É porque estamos entupidos em morfina e já deixámos de sentir seja o que for.
Tens razão quanto ao estarmos entupidos de morfina e resultar nofacto de estarmos cronicamente 'numb'. Quanto a "E se achamos que esse bom nunca chega é só porque nunca sofremos de facto." eu já não seria tão assertivo. É que o que não faz sofrer a uns pode devastar 'ad eternum' outros, sem que pareça lógico. A verdade é que quem anda a morfina já perdeu o norte e o sul e tudo à lógica mas... (e ai vem o lugar comum...)não andaremos todos a morfina?
Obrigado pelo comentário
Deixar morrer é igual a desistir de tudo em acredito. É deixar de acreditar a minha vida pode fazer algum sentido. No dia em que deixar morrer, não preciso mais de me levantar.
Se preciso de me lembrar disto? Em cada manhã, umas mais do que outras.
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