Sabe-me a boca a sangue. Sabe o meu corpo a um sangue talvez desejoso de sair, de se libertar de mim, de correr livre, sem me ter por aliado, ou inimigo ou nada.
Paira no ar um odor intenso a insanidade, 0 meu odor, talvez. Sinto-me insuportável, desesperantemente insuportável, terrivelmente preso num cofre de chumbo, selado, a caminho do fundo de um qualquer lago, de um esquecimento feroz. Terra pesada, esquecimento feroz, sangue espesso, livre.
Paira no ar um esquecimento, uma perda de toda a memória. Hoje, faltei ao chamamento. Mais uma página de paz.
Como morfina
O dia nasce e, com ele, a mesma dormência do ser,
Como ontem, como no dia anterior,
A mesma sede de dormir,
De tornar mais leve o abrir dos olhos.
Pouco a pouco, até a luz é suportável.
Como morfina, as palavras percorrem-me o sangue
Ocultando a dor.
E, a cada dia, mais palavras são precisas,
Como morfina,
Até que todas as palavras me consumam
E me soprem vida.
Um dia após o outro,
Sempre menos eu,
Mais as palavras.
Como ontem, como no dia anterior,
A mesma sede de dormir,
De tornar mais leve o abrir dos olhos.
Pouco a pouco, até a luz é suportável.
Como morfina, as palavras percorrem-me o sangue
Ocultando a dor.
E, a cada dia, mais palavras são precisas,
Como morfina,
Até que todas as palavras me consumam
E me soprem vida.
Um dia após o outro,
Sempre menos eu,
Mais as palavras.
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